Fisiologistas Brasileiros – Marcello Mitchel


Por Thaís Torres


Hoje temos um fisiologista brasileiro, com experiências internacionais, que vem ao fisiologista.com apresentar suas atividades com os atletas de futebol.

Marcello Mitchel, do Atlético Clube Goianiense, conta sobre a dinâmica do futebol, agora sob o olhar profissional e não somente de atleta.

Marcello, conta um pouco sobre sua formação e como ela contribui para sua atividade atual.

Minha graduação foi em Educação Física, pela Pontifícia Universidade Católica – PR, finalizando em 2007. Meu mestrado foi feito nos EUA, em Cinesiologia, pela Texas A&M University, finalizando em 2014. Em um intervalo de férias, em 2013, vim ao Brasil e atuei como Preparador Físico, no Paraná Clube, pois o treinador da base era meu amigo e conhecia meu trabalho. Quando retornei aos EUA para finalizar o mestrado, já havia criado um vínculo com o clube e no final desta etapa, eu voltei ao Paraná Clube, mas como Fisiologista, na categoria profissional, e tudo que aprendi na minha formação colabora para minha atividade pois fortaleceu o viés científico além das atividades esportivas práticas.

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Como encarou esta novidade de atuar na Fisiologia e não na Preparação Física?

Eu combinei as duas coisas porque, particularmente, gosto de atuar no campo, mesmo como Fisiologista. Para coleta de dados, observação, testes eu  utilizo as atividades em campo. Desde a época do Paraná, eu fico mais em campo do que no laboratório. Acredito que por ter sido atleta também, eu consegui somar a vivência como atleta e os conhecimentos acadêmicos, formando em mim esta característica. Até mesmo minha visão sobre a atuação do Fisiologista tende a atentar mais quanto ao controle de treinamento, considerando intensidade, volume, e fazendo uma correlação destas observações com os dados de avaliações que fazemos juntamente com o técnico.

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Qual a importância desses estudos para o futebol e demais esportes?

É fundamental. Eles refletem a evolução do futebol e da fisiologia no esporte dando suporte para as atividades que desenvolvemos com os atletas.

Andando neste sentido, deixamos o futebol mais científico, mais rico; é diferente quando se tem um trabalho baseado em informações fidedignas e não nos ‘achismos’, pois assim temos resultados concretos. Atualmente precisamos evoluir o esporte de forma segura e inteligente. Acredito que devemos observar dois pontos, dois filtros: o científico e a própria cultura do clube. Há clubes mais tradicionais em que essas atividades são menos fortes, no entanto um trabalho sem embasamento não é positivo.

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Como você faz para obter mais conhecimento e manter-se atualizado já que suas tarefas estão associadas a isso?

Ainda em Coritiba, na faculdade, eu fazia parte de grupos de estudos que movimentavam pesquisas, principalmente no Laboratório de Performance Física, e isso nos mantinha bastante envolvidos e atualizados.

Aqui em Goiânia, é diferente. Eu busco os dados e atualizações pela leitura de periódicos e artigos, tenho assinatura de alguns deles. Mas mantenho contato com outros profissionais dos clubes brasileiros, conversamos, trocamos ideias e opiniões, nos encontramos nas viagens devido aos jogos e isso contribui bastante.

 Sobre cursos, eu fiz poucos, aqui no Brasil. Mas busco compreender não somente minha área, da Fisiologia, mas também a parte técnica e tática. Invisto nessa área também. Você precisa ser completo, não pode enxergar e interpretar somente sua área. É preciso assimilar o jogo em si.  Eu já tinha esse contato por ter sido jogador, e isso soma muito em relação às escolhas e aplicações para o treino.

Qual área do futebol você percebe que está em crescimento em relação aos dados científicos?

Acredito que o controle de carga de treinamento tem recebido atenção. Pode parecer meio antigo, talvez, mas percebo uma escassez de dados nessa área e há muitos profissionais apostando em compreender mais desse quesito pois é importante que se saiba elaborar e determinar de forma equilibrada o volume semanal, mensal. Até mesmo cursos nesta área estão sendo mais frequentes.

Antes este ‘controle’ era feito apenas pelo que ocorria no treino, mas não havia interferência nos volumes, nestes resultados. Hoje tem sido diferente. Ano passado iniciei, como um colaborador, com um grupo de Coritiba, um estudo nessa área, de controle de carga. Pretendemos andar com o projeto.

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 Marcello, considerando que os meninos da base estão visando o alto rendimento, o que você aponta como característica importante para eles desenvolverem?

Eu tive contato com os atletas da base  principalmente em 2013, e na coleta de dados do meu mestrado, além de ter sido um deles. Percebo que o desejo de ser profissional tem de existir, por incrível que pareça, há meninos com potencial mas sem aquela vontade! Somado a isso vem a perseverança, de enfrentar os obstáculos que surgirão. A disciplina é fundamental para o menino que quer chegar a alta performance. É necessário também o respeito, principalmente pelos profissionais que trabalham com eles.

Infelizmente nossa cultura não contribui para que o atleta tenha um perfil respeitador, mas ele não será atleta se não se cuidar, se não tiver respeito pelo seu corpo e por sua carreira. Eu aprecio o profissionalismo, mesmo na base. O comprometimento com a carreira e consigo mesmo, levando em consideração tudo que precisa ser feito para se alcançar o objetivo.

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Quais as diferenças  que você percebe entre os atletas com os quais você trabalhou aqui no Brasil e nos EUA?

O futebol nos EUA não é o primeiro esporte como aqui no Brasil. A prática do esporte é bem segregada, infelizmente. Podemos observar que os jovens negros e pobres, em sua maioria, praticarão basquete e futebol americano; os brancos e hispânicos tendem a praticar baseball; considerando jovens do norte, teremos uma concentração maior no hockey . O futebol em si, é praticado mais na costa leste e por famílias mais ricas.

A visão do esporte em si é diferente. Existe um comprometimento muito maior: reclamam menos, são mais comprometidos.

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E  o que você ressalta para o profissional da base?

Sobretudo ele é um educador. O atleta nesta fase está sendo formado. É importante que ele compreenda tudo que está sendo desenvolvido nele. Os exercícios, os suplementos, caso ele tome. O porquê de cada item trabalhado, em que aquilo o beneficia, pois isso facilita também o trabalho da comissão. A paciência também é um ponto importante.

Marcello, você já indicou para gente que aprecia o trabalho em campo, que considera algumas avaliações mais indicativa que outras. Quais seriam as avaliações que você consideraria indispensáveis para categoria mais iniciais e para o SUB20?

Além das avaliações normais, eu percebo  ser importante, para a base, o acompanhamento da maturação biológica, para que a gente consiga compreender melhor a performance do menino em campo, visto que alguns atletas atingem níveis de desenvolvimento antes que outros. No SUB20, essa avaliação não se aplica. O atleta já está pronto para a próxima etapa, considerando este fator. Acredito que seja importante observar força, potência, capacidade de resistir ao ambiente lático.

Um cuidado que deve existir é a escolha do protocolo para avaliar cada um dos quesitos de forma que eles possam ser cada vez  mais próximos da prática em campo e que reflitam mais o que acontece na dinâmica do futebol. Isso é importante porque é necessário que seus dados sejam úteis e aplicáveis. Particularmente prefiro utilizar o treino como base para coletar meus dados para que seja mais específico possível.

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No clube há treinamento diferenciado para atletas que se destacam? Qual sua opinião sobre essa prática?

Acho válido quando podemos individualizar as atividades para atender a necessidade de cada atleta e perceber talentos. Não sei o quanto isso é possível na base devido ao número elevado de meninos. No meu caso, eu procuro individualizar o trabalho sempre que possível, mesmo no profissional.

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